E a razão não se deveu à dificuldade do percurso... Bem pelo contrário... A razão prende-se exactamente pela quantidade e pelo tempo das paragens realizadas ao longo do percurso... Deu para tudo... Até para visitar o Parque Arqueológico de Atapuerca... Este com vestigios da Humanidade com mais de 3 milhões de anos... coisita pouca portanto...
Desta vez o pequeno-almoço não estava incluído, pelo que, cada um teve de se virar... O Paulo não se fez rogado... E onde o burro se deita, é onde ele se levanta... (Onde é que eu já ouvi isto???). Assim sendo, toca a tomar o pequeno almoço na cama...
Os restantes foram para a copa tomar o pequeno almoço... Por acaso este albergue era muito bom, com uma copa muito bem apetrechada, com louça, fogão, micro-ondas, máquinas de comida e de café... Sem dúvidas, um dos melhores albergues públicos que encontramos ao longo de todo o percurso... Ainda por cima, o valor a pagar consistia apenas naquilo que cada um quisesses dar... A maioria ficou-se pelos 10€...
Tal como já tinha acontecido no dia anterior, mais uma vez o Marchão e o Pratas decidiram seguir caminho sozinhos, ficando os restantes elementos da matilha para trás... Desta forma, não estranhem a ausência de fotos destes dois elementos apressados... Isto para não lhes chamar... Ranhosos... LOL...
Bem... Mas afinal os homens tinham razão... Ainda nem tinhamos pedalado 50mts e já tinhamos feito duas paragens... Uma para tirar fotos à Plaza Mayor de Santo Domingo de la Calzada e outra para tomar café e comprar pão... LOL...
Uma das curiosidades de Santo Domingo de la Calzada é exactamente a lenda em torno de um milagre ocorrido durante uma peregrinação a Santiago de Compostela...
Diz a lenda que um casal de peregrinos alemães, de Colônia, peregrinava com seu jovem filho (um guapo, como dizem as espanholas), em direcção a Santiago de Compostela. Na hospedaria do burgo onde hoje é Santo Domingo de La Calzada, a garçonete (camarera) tomou-se de amores pelo guapo. Mas para azar dela - e dele - o guapo não correspondeu. Assim repudiada, a paixão converteu-se em ódio e do ódio fez-se a trama. Ela escondeu uma peça de prata na mochila do guapo jovem e deu o alarme, forjando um crime de furto, que na época era punido com a pena de morte.
O jovem foi rapidamente levado a um juiz, celeremente julgado e executado na forca, como era de direito naqueles tempos. Inconsoláveis, os pais prosseguiram na peregrinação, cumpriram todo o restante do percurso e regressavam para casa (naqueles tempos a peregrinação era de ida-e-volta, como fazem alguns ainda hoje). Passando de regresso por Santo Domingo de La Calzada ouviram a voz de seu filho, concluindo que ele estava vivo e atribuindo esse milagre ao Santo. Procuraram o mesmo juiz que havia condenado o rapaz à forca. O magistrado preparava-se para almoçar um galo e uma galinha, devidamente assados. Desdenhando do casal, o juiz gracejou dizendo-lhes que seu filho estava tão vivo quanto aquele galo e aquela galinha que ele iria comer em seguida. Mal o juiz acabou de falar galo e galinha ressuscitaram e começaram a cantar, como fazem galos e galinhas vivas. O milagre foi atribuído ao Santo e correu mundo. Não sei se foi devidamente homologado pelo Ofício correspondente, mas com certeza o foi pela fé dos crentes.
E tanto assim o é que cuidaram de mandar fazer um galinheiro gótico na Catedral e lá colocaram o galo e a galinha ressuscitado.
A tradição mantém-se até aos dias de hoje. O galo e a galinha são substituídos a cada trinta dias. São criados num galinheiro mantido pela mesma confradia que mantém o Albergue de Peregrinos de Santo Domingo de La Calzada (aquele que foi visitado pela Rainha Sofia em 1993), que também custodia os restos da forca utilizada para executar o jovem que depois ressuscitou como o galo e a galinha.
Por isso de Santo Domingo de La Calzada diz-se ser a cidade donde el gallo ha cantado mismo despues de asado.
Não sei o que é feito nos dias de hoje com os galos e galinhas que são substituídos a cada trinta dias. Provavlemente são assados e dados para o juiz da comarca almoçar.
Qualquer semelhança com a lenda do Galo de Barcelos, aquele de Portugal, não é mera coincidência. A estória é a mesma, com a só diferença de ser o peregrino galego.
Aqui uma foto ilustrativa do Eremita com as galinhas...
Curiosamente, tudo nesta localidade fazia alusão a galos e galinhas... Até os bolos e chocolates da pastelaria eram em formato de galinha...
Após alguma dificuldade em trocar a nota de 50€ do Paulo para pagar o café e o pão, lá seguimos viagem em direcção a Burgos...
O Engenheiro a pensar... Esta seara está cheia de quimicos... Rsss... Rsss...
De acordo com o Engenheiro, esta zona de seara que se prolonga até Valladolid, é considerada como o Celeiro de Espanha... Ou seja, os Espanhóis só andam a comer quimicos...
Passados uns kms e quase a chegar à aldeia de Grañon, nova paragem... Desta vez com um problema técnico grave... O Helder tinha partido o desviador traseiro... Felizmente que o rapaz vinha prevenido com um suplente... Mas o problema é que o Tó Pratas já ia muito à frente para nos ajudar...
Felizmente, o Cão Mecânico tem um seguidor discreto dentro do Grupo... Ninguém sabia, mas afinal, além de ser o elemento mais alegre do Grupo, o Paulo também faz uma perninha de mecânico... Mas tem de estar motivado... E com uma bicicleta por perto para ir tirando as medidas e comparando as afinações...
Com as indicações de uns e de outros, com mais apertadela, com menos apertadela, lá se conseguiu substituir o desviador traseiro do Cão Doping... Já no final, o Cão Doping acabou por admitir que o desviador tinha vindo partido para o El Camiño e que por esse motivo tinha trazido um novo de substituição... Bem que o Tó Pratas avisou para trocarem todos os componentes de desgaste rápido antes da viagem...
O estojo de ferramentas do Cão Repórter... Modelo Exclusivo...
Dali seguimos em direcção a Redecilla del Camiño...
A meio do caminho encontramos uma placa enorme a assinalar a entrada na Provincia de Leão e Castela, e claro, motivo para mais uma paragem...
Daqui foi sempre a descer até Redecilla del Camiño... e claro está mais uma paragem para um carimbo, reatestar os bidons da agua e seguir caminho...
Nesta altura a paisagem era algo monótona, verde e mais verde, prado atrás de prado, seara atrás de seara... estavamos cada vez mais próximos do final da etapa e do El Camiño deste ano... Durante muitos kms circulamos lado a lado com a Via Rápida e à medida que avançamos, as placas com a indicação da distância para Burgos iam diminuindo a olhos vistos... Começamos a ficar com a sensação que iamos chegar à hora de almoço e que depois iriamos passar o resto do dia atè às 01h49m (hora do comboio) a pastar pelas ruas de Burgos...
Em Viloria de Rioja mais uma paragem... Tudo servia de motivo para parar... Aliás... só paravamos por dois motivos: Por tudo e por nada...
Já em Belorado, uma pequena Vila do interior de Burgos, com uma Igreja de arquitectura tipica da zona, mas muito interessante, foi a casa construida em plena rocha...
A Praça Central com os Plátanos com os ramos podados (tipico desta Zona Norte de Espanha e Sul de França)...
O Cão Repórter afinal também lá esteve...
À saída de Belorado, paramos numa estação de serviço... Não para fazer qualquer tipo de manutenção nas bicicletas, mas porque sim... Claro está que o Paulo não podia ficar quieto... e aproveitou para lavar a bicicleta do Cão Guia...
Em VilaFranca Montes de Oca, tinha inicio a famosa Serra Montes de Oca, pelo que, teriamos aqui a dificuldade do dia, e que de acordo com o Tó Pratas (que entretanto nos tinha ligado) era bastante dura e mais dificil do que as subidas dos dias anteriores... Ficamos apreensivos, porque segundo o Tó, o piso estava dificil e a agarrar muita lama nas rodas...
Já no final da subida, atravessamos um grande planalto com um caminho largo e rolante, pelo que os 8kms que nos separavam da povoação de San Juan de Ortega, foram realizados a grande velocidade... Aliás... Tenho de dar razão ao Tó Pratas e ao Marchão quando afirmam que o pessoal tanto pedala calmamente, como de um momento para o outro, manda grandes esticões... E foi o caso... Não sei o que deu ao Cão Guia, mas o homem passou-se... Ao ponto de quase ter atropelado um Peregrino que seguia a pé... O homem atingiu os sessenta e tal kms hora na descida... Parecia que estava aos comandos de um Percheron...
Aqui em San Juan de Ortega devemos ter demorado mais de uma hora... Primeiro foi porque estava a chover... Depois foi porque fomos carimbar o passaporte no Quiosque de Jornais, No café, No albergue, Na igreja, Na Lavandaria, No Talho, Na Padaria... Enfim... Deu para tudo... Depois porque estavamos cansados... Depois porque o Paulo reparou que afinal o desviador do Doping estava mal montado... Enfim... Foi um verdadeiro momento de lazer...
A pensar... Mas porque é que eu me meti nisto???
A descansar...
A arranjar o desviador traseiro do Cão Doping, aqui com as instruções do Engenheiro...
O Engenheiro estava ansioso por chegar a Atapuerca... Segundo ele, tinha uma surpresa para nós... E não estavamos longe... A apenas 5kms de distância...
Em Agés...
Chegados a Atapuerca, o Enenheiro iria revelar a surpresa... Um parque Arqueológico com vestigios de Humanidade com mais de 3 milhões de anos encontrados na Serra de Montes de la Oca...
Dado que ainda eram 15h15m e a exposição só abria às 16h, acabamos por ficar por ali a fazer tempo até que chegasse a hora de abertura da Exposição...
E aqui o que resta de um exemplar de Hominideo Acabadus...
Só após visitarmos a Exposição, tivemos autorização do Engenheiro para seguir caminho... Não sem que antes o Engenheiro nos explicasse a importância destas descobertas e ter fotografado cada uma delas minuciosamente...
Quando nos sentamos em cima das bicicletas é que nos apercebemos do tempo que estivemos parados... Os músculos das perna recusavam-se a obedecer... Ainda por cima os 2kms seguintes eram a subir... Em cima de pedra...
Mais uma construção feita pelos milhares de peregrinos que aqui passaram...
Recebemos mais um telefonema do Tó Pratas e do Marchão... Estavam em Burgos e já tinham tratado de comprar o filme para embrulhar as bicicletas...
Chegamos ao topo da subida e conseguimos avistar Burgos a cerca de 20kms de distância... Felizmente... Sempre a descer até Burgos...
Na chegada a Burgos, a famosa fotografia da praxe.. Em familia... Mas com dois elementos a menos... Que entretanto já tinham chegado antes de nós...
Gráfico de Altimetria do dia:
Distância Percorrida: 76.25kms
Desnivel Acumulado Ascendente: 1093mts
Ass: Cão Repórter
PCCRB
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